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De Frente Para O Crime

Aldir Blanc

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de um rosto, uma foto de um gol
Em vez de reza, uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém

Pôxa, cara, tô ligado no seu drama
Com a cara nessa lama
Teve medo de morrer
De viver, de sofrer,
De nem ter o que comer
Ninguém liga pra você
Ninguém liga nem nunca ligou

O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa de um bar
E fez discurso pra vereador

É, ninguém liga pra você nem nunca ligou
Hoje sobra tanta indiferença, indignação
Falta luz, falta governo, falta educação
Tanto que com o preconceito em alta
Só não sentem tua falta, meu irmão!

Veio camelô vender anél,
Cordão, perfume barato
Baiana pra fazer pastel
E um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã baixou
O santo na porta-bandeira
E a moçada resolveu parar e então
Tá lá o corpo estendido no chão

Quem sabe agora você pode descansar
Se livrar da injustiça
Desse medo dos bandidos
Medo da polícia
Maldita cena projetada na janela
TV de todo dia, gente pobre é sempre réu
O que te resta é um pouco dessa lua
Refletida na sarjeta, teu pedaço lá no céu

Sem pressa foi cada um pro seu lado
Pensando numa mulher ou num time
Olhei o corpo no chão e fechei
Minha janela de frente pro crime.






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