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Biografia de Dulce Pontes

Nascida no Montijo, nos arredores de Lisboa, do outro lado do rio Tejo, em 1969, a menina Dulce Pontes foi introduzida na tradição do fado por seu tio Carlos Pontes, fadista e amante das corridas de touros. Aos sete anos começa a frequentar o Conservatório Nacional de Música em Lisboa sendo o piano o seu instrumento de eleição. Ali desenvolve a curiosidade sobre a matéria e adquire o hábito da pesquisa e do estudo da música, criando bases para o desenvolvimento de uma sólida carreira como cantora e compositora.

Durante a adolescência dedica alguns anos à aprendizagem da dança contemporânea, e apesar de desencorajada a seguir uma carreira como bailarina, manteve-se por dois ainda nos caminhos da dança dando aulas na academia de sua primeira professora, Anabela Gameiro. É também nessa época que forma o grupo de rock “Os Percapita” onde ensaia as primeiras vocalizações amadoras. Os primeiros passos profissionais acontecem quando a jovem cantora é escolhida entre várias candidatas, para substituir a actriz principal no elenco do musical “Enfim Sós”, em 1988. Seguem-se participações em programas televisivos, gravações de spots publicitários e apresentações no Casino do Estoril onde Dulce chama a atenção pela qualidade da voz e interpretações apaixonadas do fado, nessa altura uma tradição à qual os jovens cantores davam pouca importância, e de temas de Shirley Bassey. O reconhecimento público tem início no programa televisivo “Regresso ao Passado”.

Em 1991 obtém o oitavo lugar no Festival da Eurovisão, em Roma, com o tema “Lusitana Paixão”. No ano seguinte edita o seu primeiro disco, “Lusitana”. Em 1993, com o disco “Lágrimas”, Dulce Pontes começa a desenhar um percurso próprio onde, e apesar de ter sido por muitas vezes considerada uma possível sucessora de Amália Rodrigues, (a famosa fadista portuguesa falecida a 6 de Outubro de 1999) o fado é apenas um dos componentes. Nesse disco Dulce apresenta o resultado das primeiras pesquisas nas áreas da música popular portuguesa, de raiz africana, árabe e berbere.

A sua interpretação de “Canção do Mar” fez parte da banda sonora da versão internacional da novela brasileira “As Pupilas do Senhor Reitor”, (1994).
A mesma interpretação desta canção de Ferrer Trindade foi o tema principal da banda sonora do filme “Primal Fear”, (A Raiz do Medo), (1996) de Gregory Hoblit, interpretado por Richard Gere e Edward Norton, nomeado para o Óscar de melhor actor secundário, sendo que o sucesso do filme trouxe também reconhecimento internacional para a cantora portuguesa.

Foi assim que a voz de Dulce Pontes cruzou o oceano e passou a ser ouvida nos dois hemisférios. A partir de então vem desenvolvendo a sua carreira em muitos outros países, repetindo o feito da Amália Rodrigues, e de certa forma complementando um trabalho retomado também pelos Madredeus, na divulgação da música cantada em língua portuguesa, ajudando a reabrir caminhos para que outros artistas lusitanos viessem a frequentar cenários internancionais.

O jornalista espanhol Maxi De la Peña atribui a Dulce Pontes a proeza de ter conseguido que os jovens voltassem a apropriar-se da tradição do fado. “Dulce provocou um efeito sociológico sem precedentes. Graças a ela os jovens artistas portugueses começaram e redescobrir o fado, produzindo uma fecunda colheita nestes últimos anos.”

Dulce passa a apresentar-se em digressões internacionais percorrendo Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália, EUA, Japão, Brasil. Uma das consequências dessa abertura de mercado é o convite que lhe faz o compositor italiano Ennio Morricone, em 1995, para interpretar o tema “Brisa do Coração” como parte da sua banda sonora para o filme “Sostiene Pereira” (Afirma Pereira) de Roberto Faenza, com Marcello Mastroianni, rodado em Lisboa. Foi nessa ocasião que Ennio Morricone afirmou que gostaria muito de gravar um disco com a cantora.

A paciência activa é uma das virtudes cultivadas por Dulce Pontes. Enquanto a gravação de um CD com Ennio não acontece, lança mais três discos; “A Brisa do Coração”, (1995), “Caminhos” (1996), e “O Primeiro Canto” (1999). Cada um deles foi o resultado das pesquisas e recolhas que a Dulce fez pessoalmente, e em cada um deles ela foi aumentando e diversificando os artistas colaboradores; músicos, compositores, poetas, orquestradores e arranjadores que tem em comum o facto de serem reconhecidamente dos melhores nos seus diferentes géneros e áreas.

No ano de 1997 Dulce Pontes entra em digressão quase permanente, e representa Portugal no concerto Yes for Europe (Sim pela Europa) difundido por 17 canais televisivos, no World Food Day (Dia mundial da Alimentação) organizado pela FAO em Roma, no concerto de celebração do 52º aniversário da Nações Unidas, em Nova Iorque, no Concerto da Amnistia Internacional em Madrid, e no 1º Festival Internacional de la Solidaridad de Barcelona.

Os convites para parcerias e participações em concertos e gravações sucedem-se. Atua ao lado do italiano Andrea Bocelli, do espanhol José Carreras, da cabo-verdiana Cesária Évora, dos brasileiros Caetano Veloso, Daniela Mercury, Simone e Marisa Monte, do gaiteiro galego Carlos Nuñez, dos irlandeses The Chieftains a convite de Paddy Moloney.

Nos seus discos, Dulce conta sempre com colaborações de músicos como Leonardo Amuedo, que ela considera sua alma gémea musical, Wayne Shorter, Jaques Morelenbaum, Trilok Gurtu, Justin Vali, Kepa Junkera, Waldemar Bastos, Maria João, Myrdhin, Anders Norudde, Stefanos Korkolis, entre muitos outros artistas de primeira linha.