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O Vendedor De Ilusões

Nei Lopes

Aconselhado pelos tios Belizário, Teodoro e Januário
Lá do Morro da Matriz
Fui procurar seu Cipriano Apolinário, mandingueiro centenário
Curandeiro de raiz
É que eu andava com a moral bem abatida, com espinhela caída
Numa baita depressão
Tanto que a Dora, a Dagmar e outras cabrochas até hoje ainda debocham
Da minha situação
(Não sou profissional das tintas pra viver de caiação)
O tio velho se escondia, não morava, além de Vila de Cava
Que era longe pra chuchu
Acordei cedo, tomei caracu com ovo e parti pro Engenho Novo
Rumo de Nova Iguaçu
Fui baldear na estação do Engenho de Dentro com o mau pressentimento
De que ia me dar mal
Mas com a coisa preta e feia como estava, rumei pra Vila de Cava
Pra salvar minha moral
(Minha moral não levantava nem a pedra nem a pau)

Em lá chegado, contei tudo de uma vez, que já fazia mais de um mês
Que eu não podia ser feliz
Então, o velho nego mina Cipriano foi logo receitando
Aquele monte de raiz
Marapuama, catuaba, cipó chumbo, gengibre, simaruba, baunilha e guaraná
Pau de resposta, cravo, salva, amendoim, noz de cola e um bocadinho de pimenta pra encerrar
(Um verdadeiro coquetel da medicina popular)

Cheguei em casa degluti a beberagem e saí pra malandragem
Conferir o meu valor
De terno creme e de gravata borboleta, sobre um salto carrapeta
Fui pra casa da Margô
Parti pra lá com todo o gás e muita pilha, mas na “boca da emília”
Foram três decepções
Aí é que eu soube que o velho era manjado e até cognominado
“O Vendedor de Ilusões”
(Eu que valia trinta contos já não valho dois tostões...
Eu que na minha juventude fui o rei dos gaviões,
já faz dois anos que não cumpro com as minhas obrigações!)

Composição: Nei Braz Lopes





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