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Biografia de Pedro Caetano

Pedro Walde Caetano
1/2/1911 Bananal, SP
27/7/1992 Rio de Janeiro, RJ

Nascido em Bananal, interior paulista, veio com a família para o Rio de Janeiro com apenas nove anos. Começou a estudar piano nessa época. Apesar de se consagrar como compositor, sempre exerceu a atividade de comerciante de calçados. Escreveu o livro "Meio século de música popular brasileira - O que fiz, o que vi", lançado pela Editora Vila Doméstica, do Rio de Janeiro, em 1984.

Figura de destaque da chamada Época de Ouro da MPB. Teve inúmeros parceiros, entre eles: Alcyr Pires Vermelho, Valfrido Silva e Claudionor Cruz, o mais assíduo. Fez o primeiro samba aos 22 anos, "Foi uma pedra que rolou", lançado em 1934, no Programa Casé, por Sílvio Caldas, mas somente gravado em 1940, pela dupla Joel e Gaúcho na Columbia. Em 1935, teve sua primeira composição gravada, o samba-canção "O tocador de violão", parceria com Claudionor Cruz por Augusto Calheiros na Odeon.

Em 1937, chegou a escrever uma letra para "Carinhoso", a pedido do irmão de Orlando Silva, Edmundo, pois o "cantor das multidões" não confiava no sucesso da letra de Braguinha, que iria gravar. Em suas memórias, a considerou "piegas e sem graça", pois a letra dizia: "Na mansidão do teu olhar/ meu coração viu passear/ uma feliz e meiga bonança"... Em 1938, Orlando Silva fez sucesso com a valsa "Caprichos do destino", uma parceria com Claudionor Cruz. Nesse mesmo ano, Aracy de Almeida gravou na Victor o samba "Moreno faceiro", parceria com Claudionor Cruz. Em 1939, fez com Valfrido Silva o samba "Se você fosse minha rosa" gravado na Odeon pela dupla Joel e Gaúcho, com Joel de Almeida compôs o samba "O que é que tem?" e com Claudionor Cruz o samba "Ela rasgou minha baiana", gravados por Dircinha Batista na mesma gravadora.

Em 1940, fez em parceria com Claudionor Cruz e Wilson Batista o samba-batuque "Senhor do Bonfim te enganou" gravado na Odeon por Dircinha Batista e Nuno Roland. Com Alcyr Pires Vermelho compôs a marcha "Amor perfeito" registrada por Gilberto Alves e com Claudionor Cruz compôs o choro estilizado "A felicidade perdeu seu endereço" e a valsa "Não creio na ventura" gravadas por Orlando Silva e a marcha "Oh! Rosa" gravada por José Lemos, as três na Victor. Em 1941, Dircinha Batista gravou o samba "Contemplando", com Claudionor Cruz. Em 1942, lançou um de seus grandes êxitos, composto em uma festinha, em homenagem a menina Maria Madalena de Assunção Pereira. Lançada por Cyro Monteiro no Programa de César Ladeira, na Rádio Mayrink Veiga, a música fez sucesso, justamente por trazer o nome inteiro da menina na letra. Tal detalhe impediu, no entanto, que Cyro Monteiro gravasse o samba-choro com sua letra original, pois a censura da época proibia nomes próprios por extenso em letras de música. A solução foi dada pelo radialista César Ladeira, que sugeriu a troca do sobrenome "de Assunção" para "dos Anzóis" e em tom de brincadeira disse: "Se aparecer alguém com esse nome mandem prender, porque isso não é nome que se use". Assim, em abril de 1942, saiu o disco pela RCA Victor. Ainda em 1942, Francisco Alves gravou "Sandália de prata", um samba em parceria com Alcyr Pires Vermelho, pela Odeon, e que viria a ser revivida muitas décadas depois. Ainda nesse ano, compôs com Joel de Almeida a rancheira "Saudade da roça" gravada por Joel e Gaúcho, com Claudionor Cruz fez os sambas "Retratinho dele" e "Tempestade d'alma", gravados por Dircinha Batista, com Alcyr Pires Vermelho, a marcha "Deixai para mim as cabrochinhas" gravado pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa e com Marino Pinto a marcha "Ela partiu... (Sabe moço?), registrada por Francisco Alves, todas na Odeon.

Em 1943, Orlando Silva gravou na Odeon a marcha "Orgulho da minha terra", parceria com Antônio Almeida e Cyro Monteiro na Victor o samba "O vestido que eu te dei", com Alcyr Pires Vermelho. Com Claudionor Cruz, fez a valsa "Duas vidas", gravada por Orlando Silva e o samba "É triste a gente querer", gravada por Gilberto Alves e com Valfrido Silva compôs o "Samba de casaca" registrado pelos Quatro Ases e Um Coringa. Ainda nesse ano, compôs com Joel de Almeida o maxixe "Quem foi que disse?" e a valsa "Aceite o convite" gravadas pela dupla Joel e Gaúcho e teve êxito com a valsa "A dama de vermelho", parceria com Alcyr Pires Vermelho e lançada por Francisco Alves. Em 1944, compôs com Claudionor Cruz um grande sucesso: a marcha de carnaval "Eu brinco", inspirada na conjuntura da II Grande Guerra, que provocou racionamentos e dificuldades econômicas, a ponto da imprensa temer um carnaval desanimado para aquele ano. A letra dizia; "Com pandeiro ou sem pandeiro, eu brinco, com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco". A expressão caiu nas graças do povo e tornou-se dito popular na época. A marcha foi gravada por Francisco Alves, pela Odeon. Nesse ano, teve gravados ainda os sambas "Ginga, ginga, ginga", com Carlos Barroso e "Bahia, rainha da lenda", com Alcyr Pires Vermelho, pela dupla Joel e Gaúcho, "Quem gosta de mim sou eu", com Frazão, por Odete Amaral e "A cubana no samba", com Valfrido Silva, pelos Quatro Ases e Um Coringa. Ainda no mesmo ano, o samba "Saudades dela", parceria com Alcyr Pires Vermelho foi gravado na Victor por Cyro Monteiro e Carlos Galhardo gravou com sucesso o samba "Disse-me-disse", parceria com Claudionor Cruz, também pela Victor.

Em 1945, obteve certo destaque com a marcha "Haja carnaval ou não", com Claudionor Cruz gravada por Francisco Alves, pela Odeon. Nesse ano, o mesmo Francisco Alves gravou a valsa "E a noite continua", parceria com Alcyr Pires Vermelho e Gilberto Alves o choro "Este choro e o meu pranto", com Claudionor Cruz. Ainda nesse mesmo ano, fez com Claudionor Cruz a marcha "Um pracinha na Itália" gravada por Orlando Silva e a valsa "O coração que te quer" registrada por Carlos Galhardo. Em 1946, teve os sambas "O samba agora vai" e "Onde é que estão os tamborins?" gravados pelo grupo Quatro Ases e Um Coringa. O samba "Onde é que estão, os tamborins?" foi sucesso no carnaval do ano seguinte tornando-se um clássico. Na letra, reclama da apatia e da ausência dos sambas de Cartola, ausente dos carnavais daquela escola na época com versos que dizem: "Mangueira/onde é que estão os tamborins, ó nêga?/Viver somente do cartaz não chega/põe as pastoras na Avenida/Mangueira querida!". Segundo o autor, o samba nasceu quando voltava do teatro com a mulher, em época próxima do carnaval e estranhou o silêncio na Mangueira: "Como estávamos perto do carnaval, estranhei o silêncio e comentei: - Você não acha que já seria hora de a Mangueira estar fervilhando nos ensaios? Dizendo isto fui fazendo a minha crítica mentalmente e esta foi saindo em ritmo de samba de carnaval. O negócio foi tão espontâneo que quando meti a chave na porta, já estava cantando."Ainda nesse ano, Gilberto Milfont gravou dois sambas e uma marcha de sua parceria com Claudionor Cruz: "Estão vendo aquela mulher", "Apelo" e "Quem tem dinheiro". O samba "O que se leva dessa vida", também seria muito bem sucedido e foi gravado por Cyro Monteiro pela Victor e regravado pelo grupo "Quatro ases e um coringa", pela Odeon.

Em 1947, teve mais dois sambas gravados pelo Quatro Ases e Um Coringa, "Sopa no mel", com Sá Róris e "Sambolândia". Com o mesmo grupo Quatro Ases e Um Coringa obteve novo sucesso com o samba "É com esse que eu vou", composto numa viagem de trem de Vitória para Belo Horizonte. Anos depois este samba foi relançado e consagrado na interpretação de Elis Regina, em arranjo inovador. Ainda no mesmo ano, Francisco Alves gravou a valsa "Você e a valsa", com Alcyr Pires Vermelho e Cyro Monteiro a marcha "Beijo". Em 1948,teve as marchas "Paz com briga", com Claudionor Cruz, gravada por Albertinho Fortuna e "Beduíno", com Sá Róris por Castro Barbosa, as duas na gravadora Star. Em 1949, o Quatro Ases e Um Coringa gravou os sambas "Mulher carinhosa demais", com Alcyr Pires Vermelho e "No meu cangote", com Claudionor Cruz.

Em 1950, Nuno Roland gravou na Todamérica o samba "Em qualquer parte do Rio", parceria com Alcyr Pires Vermelho e Heleninha Costa na Sinter a batucada "Bonequinha da Holanda", com Clemente Muniz. Em 1951, os Vocalistas Tropicais gravaram na Odeon a marcha "Quem tem amor não dorme" e Nuno Roland na Todamérica o samba "Tá bem quente", com Carlos Barroso. Em 1952, os Vocalistas Tropicais gravaram a rancheira "Cachoeiro do Itapemirim", com Carlos Barroso e o samba "Presunçosa", com Clemente Muniz, Elizeth Cardoso o bolero "Amor, amor", com Portinho e a dupla Joel e Gaúcho as marchas "Senhor Cabral", com Cláudia Sandoval e "Mulher falsa", Claudionor Cruz. No ano seguinte fez uma rara parceria com o pianista José Maria de Abreu no samba "Rancor" gravado por Marion e teve as marchas "No fundo do copo", parceria com Clemente Muniz gravada por Nuno Roland e "Tomara que caia", com Carlos Barroso, por Bill Farr. Em 1954, fez com Clemente Muniz a marcha "Despedida de solteiro" e a valsa "Casadinhos" gravadas em dueto por Alcides Gerardi e João Dias e, com Claudionor Cruz, o samba-canção "Falta-me alguém", gravado por Carlos Augusto na Sinter. No ano seguinte, Orlando Silva gravou na Odeon o samba "Dia de pagamento, com Clemente Muniz, Dalva de Andrade na Continental lançou o samba-canção "Tudo nos falta", com Claudionor Cruz e Gilda Valença lançou na Sinter as marchas "Uvas pretas" e "Quanta coisa boa", com Carlos Renato. Ainda nesse ano, a então Miss Brasil Marta Rocha gravou o baião "Rio, meu querido", com Carlos Renato e a marcha "Duas polegadas a mais" alusiva a sua derrota no concurso de Miss Universo por ter duas polegadas a mais na cintura, parceria com Alcyr Pires Vermelho e Carlos Renato.

Em 1957, Nora Ney gravou na Continental o samba "Eu e Deus", parceria com Evaldo Gouveia e Jorge Goulart na mesma gravadora lançou a valsa "Rio, novo céu", com Claudionor Cruz. No mesmo ano, Léo Vaz gravou os sambas "Eu vou onde está o Brasil" e "A sorte corta caminho", parcerias com Alcyr Pires Vermelho.

Em 1961, lançou a marchinha de carnaval "Desta vez vamos", uma sátira ao slogan de Ademar de Barros, candidato à presidência da República na época. Em 1965, em parceria com Alexandre Dias Filho, compôs a marchinha "Todo mundo enche", uma sátira ao coronel Américo Fontenelle, então diretor de trânsito do Rio de Janeiro. Classificou a marcha "Jambete sensação", parceria com Claudionor Cruz, em 1968, em concurso de carnaval promovido pela Secretaria de Turismo do Estado da Guanabara, iniciativa do Museu da Imagem e do Som, através do Conselho Superior de MPB. Em 1969, compôs com Luiz Reis o samba "Olha leite das crianças" defendido por Marlene no palco do Maracanãzinho no concurso de carnaval daquele ano obtendo o quarto lugar. Por volta de 1972, foi lançado com a colaboração do Governo do Estado do Espírito Santo o LP "Canto e encanto do espírito Santo", com músicas de sua autoria em homenagem a diversas cidades daquela estado interpretadas por Antônio João, Rose Valentim e Nuno Roland. Em 1974, recebeu o título de Cidadão da Guanabara em homenagem prestada em show comemorativo a seus 40 anos de carreira.

Em 1983, o grupo vocal As Gatas gravou sua marcha "Tira a tranca, arranca o trinco (General, general)" e Jacyr da Portela a marcha "É dose pra leão" lançadas no compacto "O carnaval do Café Nice". Esta última foi regravada pelo grupo Céu da Boca no ano seguinte no LP "Carnaval 84, liberou geral". Em 1984, foi homenageado com o primeiro show montado de sua obra, espetáculo "É com esse que eu vou" realizado na Sala Sidney Miller da Funarte na série "Projeto Carnavalesca", com roteiro e direção de R. C. Albin, que segundo o compositor, "(...) fez do meu repertório uma autêntica Revista Musical. Teatralizando as marchinhas de atualidade política e social, ele fez do show, um espetáculo alegre e muito bem humorado". Este espetáculo contou com as participações de Marlene e o grupo Céu da Boca, além do próprio compositor, presente ao palco. Neste show, além de seus clássicos, o roteirista incluiria músicas carnavalescas recentes, como "Cineangiocorariografia", uma sátira aos problemas de que era vítima o então presidente da República João B. Figueiredo. Autor de grandes clássicos da música popular brasileira como "Sandália de prata", "Eu brinco", "Botões de laranjeira", "É com esse que eu vou" e "Onde estão os tamborins", entre outras, foi homenageado por ocasião do centenário de seu nascimento em evento realizado no Instituto Cultural Cravo Albin com uma exposição, show comemorativo e placa no Mural da Fama do Instituto.