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Biografia de Rzo

Rzo também teve sua origem na periferia da zona Oeste, no distrito de Pirituba, três paradas a partir da mesma Barra Funda pela linha A, e veio com um som que era com certeza influenciada pela postura e balanço dos Racionais (notadamente no som Paz Interior). Além disso, com Mano Brown & cia. o RZO admitia admiração pelo rap estadunidense – neste caso, a principal fonte era a organização sonora nova iorquina Wu-Tang Clan. Como os estadunidenses o grupo incluía muita gente, cada qual com suas levadas próprias, cada um encarnado num personagem.

Como os estadunidenses, o grupo serviu de escola e plataforma para muitos outros grupos e artistas, como Sabotage, cuja carreira meteórica terminou com seu assassinato em 2003. Segundo Tom, do Função RHK, o grupo “abriu as portas da Z/O. O RZO deu a oportunidade pra vários manos colarem e assistirem aos ensaios deles, pra vários manos colando em shows, tipo igual eu, o DBS, o próprio Sabotage, e ali foi uma escola, porque você ensaiar com menino Helião e Sandrão, os cara são foda, os caras tem uma fórmula ‘monstra’ do rap.”

O balanço da Rapaziada da Zona Oeste rap abriu um universo amplo de composição, com canções sobre trânsito, boemia ou até mesmo sobre chuva. As letras mantinham a perspectiva de orgulho favelado, mas fugiam das narrativas lineares dos discursos ou contos, eram muito parecidas com fluxos de consciência, entremeadas por gírias e onomatopéias, muita cantoria masculina e feminina e uma profusão de estrofes repetidas como pequenos refrões. Importante também é que o RZO fazia isso sob a perspectiva boêmia, dos Loucos. Dos periféricos orgulhosos, que curtem as baladas nas biroscas e na rua, e chapam sempre prezando o respeito, a consideração - uma versão hip hop dos malucos beleza, contra cultura total. Essa figura pode soar caricata se você nunca foi botequeiro, mas aí eu só lamento. O espírito está retratado nas incontáveis colaborações com outros artistas e nos dois discos do grupo, Todos São Manos (1999), lançado pelo selo dos Racionais Mc’s, e Evolução é Uma Coisa (2003), que saiu pelo Festa Brava, selo próprio, com distribuição da TNT Records.

É desse disco que vêm os versos: “é no barraco do Fumaça vários mano ali com nóis / escutando um Jorge Ben, um Wu-Tang Clan, um Racionais / doido demais, cachaça rola, quando não baseado, alucinado saco de cola / não me envergonho, quem me conhece prova, eu não escondo / pois eu acho assim, minha vivência trouxe ponto e vou além também /mas não muito pois pressinto a lei / respeito, aprendi com os mais velhos do peito no ganha pão / colei com Véio Badu, picadilha de responsa é sem flagrante, assim que é” (Rolê na Vila). Do universo coletivo do RZO, onde levadas vocais diferentes das encontradas no cenário nacional são de importância vital, vem o termo constante nas rimas e importante pra equação que tento montar aqui: bom som. Muito ainda deve ser falado sobre o RZO, que após uma breve pausa voltam a por em prática a fórmula “monstra” de fazer rap. Fiquem ligados para o novo trabalho do RZO. Vale conferir os trabalhos solos do Sandrão, do Dj Cia, do Helião e da Negra Li. Vale também procurar pelo “Bang Loko” com Mano Brown, Ice Blue, Helião e Sandrão.