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As Divas

Antônio Miranda

No cinema brasileiro de minha juventude
as mulheres eram emblemáticas, prototípicas!
Emblemáticas? Prototípicas?!

Eliane Lage era asséptica, higiênica
maravilhosamente burguesa e fleumática
enquanto Eliana, saia godê
parecia vir de um seriado de TV!

Vanja Orico, nativa refinada
onça amazônica, encarnava o sertão
numa representação telúrica/regional
como um ícone, um mito
i.e., emblemática e prototípica!

Norma Benguel sempre personificava
nossos instintos, nossos desvios
excessos, as vontades mais recônditas
- por que não confessar? – nossos pecados
pois havia ainda pecado abaixo do Equador.

Havia Tônia Carrero, tão linda, tão perfeita!
Podia passar por uma atriz de Hollywood
não fosse a língua de seus filmes!
Tão superior, tão loura! Tão emblemática
de nossas projeções/superações raciais
meridionais.

Mas eu gostava mesmo
mais intensamente
devo confessar: apaixonadamente
era da Odette Lara
- uma Anita Ekberg nos trópicos –
mesmo vestida
ela estava sempre nua!

A nudez de Norma Benguel
era pontual, momentânea
ou seja, prototípica...

A nudez de Odette Lara era integral
permanente, dos pés à cabeça
estava no mar libidinoso
de seus olhos! Na sensualidade
de seus ombros mesmo quando
vestidos!

E não havia mais ninguém!

Em preto-e-branco
elas luziam todas as cores
de um arco-íris secreto.

Composição: -





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