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Biografia de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos

A bossa mais bonita da década, 'Slow Motion Bossa Nova', não foi composta por um bossa-novista no sentido tradicional, e, sim, pelo violonista Celso Fonseca, 50, e pelo letrista Ronaldo Bastos, 59. Lançada no álbum Juventude/Slow motion bossa (2001), a música atualiza o estilo de Tom, João e Vinicius.

O gosto pela bossa e o ritmo sincopado é uma das características da parceria entre Celso e Ronaldo, iniciada nos anos 80 (Sorte, por exemplo, gravada em dueto por Gal Costa e Caetano Veloso, fez grande sucesso em 1985) e consolidada nos 90. Mas Celso recusa um vínculo mais forte com a bossa nova.

“É claro que fico orgulhoso em ser associado a uma música sofisticada como a bossa nova, mas tanto eu quanto Ronaldo tivemos influências também do pop e do rock. Acho que me associam à bossa pelo meu modo de cantar, cool, e de tocar violão”, explica o produtor, violonista e cantor, por telefone.

A profícua união musical de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos tem sua história compilada no ótimo Polaroides (Dubas). Mais do que uma simples coletânea, o disco mescla canções de três álbuns da dupla (Sorte/1994, Paradiso/1997 e Juventude/Slow motion bossa nova/2001) e gravações inéditas.

Meu tudo pra mim, gravada especialmente para o projeto, puxa o time das inéditas, seguida por "A noite é meu ópio" (lançada por Nana Caymmi no CD Alma serena/1996), a releitura de "Sorte" e "My Broken Heart", extraído do álbum River gauche Rio, inédito no Brasil e lançado por Celso na Europa, em 2005.

Diferentes e complementares ao mesmo tempo, Celso e Ronaldo têm a química das boas parcerias artísticas. Celso, cuja carreira de cantor ainda é mais reconhecida no exterior do que no Brasil, acompanhou Gilberto Gil por mais de 15 anos e, do mestre tropicalista, carrega a influência do toque de violão.

Ronaldo Bastos, dono do criterioso selo fonográfico Dubas Música, foi um dos membros do mineiro Clube da Esquina e é co-autor de pérolas do pop e da MPB como "Trem azul" (com Lô Borges), "Nada será como antes" (com Milton Nascimento), "Amor de índio" (com Beto Guedes) e "Um certo alguém" (com Lulu Santos).

Curiosamente, conta Celso, ele e Ronaldo Bastos começaram a gravar suas canções, no início dos 90, porque elas deixaram de ser gravadas pelos artistas a quem ofereciam.

Ainda bem que a necessidade fez a dupla lançar em 2001 a trilogia Sorte, Paradiso e Juventude/Slow motion Bossa Nova. Este disco é o registro de sambas e bossas, que une sons do passado e do presente no melhor estilo, misturando a batida sincopada da bossa às batidas eletrônicas.

Daniel Jobim, Jussara Silveira, Márcio Montarroyos, Jacques Morelenbaumes e os parceiros João Donato e Celso Fonseca são alguns nomes consagrados presentes nesta obra de arte coletiva. Destaque para a versão em português do sucesso francês ´Que Reste-T-Il De Nos Amours", além da canção italiana "La Piu Bella del Mondo". A MPB moderna agradece.

Seis anos depois do lançamento de "Juventude/Slow motion bossa nova", disco que fechou a trilogia iniciada em 1994 com o CD "Sorte" e que incluiu em 1997 "Paradiso", a dupla Celso Fonseca e Ronaldo Bastos revê seu trajeto em "Polaróides" (Dubas Música).

Mais do que uma coletânea – já que mistura músicas dos três discos acima com regravações, uma canção inédita e outra tirada de um CD de Fonseca editado apenas na Europa -, esse álbum oferece um resumo do trajeto dessa singular dupla.

Apresentado, em 1984, ao violonista, compositor, produtor e cantor, o letrista se surpreendeu com a facilidade com que botou letras nas músicas que recebeu do novo parceiro.

– Às vezes, levo meses trabalhando numa só canção, mas com Celso tudo flui muito rápido. Eu me lembro que cheguei em casa com a fita que ele me entregou, botei no gravador e fui fazendo uma atrás da outra – conta Ronaldo Bastos, que em quatro décadas de carreira, já assinou diversos clássicos da música brasileira, em parcerias com, entre outros, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Edu Lobo, Marcos Valle, Tom Jobim, João Donato e Ed Motta.

O compositor Ronaldo Bastos nasceu em Niterói, entre as suas composições destacam-se: “Fé Cega, Faca Amolada” e “Nada SeráComo Antes”.

Celso Fonseca que nasceu no Rio é guitarrista e produtor de Gilberto Gil, Daúde e Dulce Quental além de várias outras personalidades da MPB.

Em 1983 Ronaldo Bastos e Celso Fonseca iniciaramuma parceria que se estende até hoje.

Uma das primeiras canções da dupla, "Sorte", seria lançada em 1985, num dueto de Gal Costa e Caetano Veloso, para a abertura do disco "Bem bom", da cantora. Sucesso nas rádios, parceria ser um sinal de... sorte para os dois, que logo em seguida foram gravados por entre outros, Maria Bethânia ("Sei de cor", em 1986) e Zizi Possi ( "Mania", em 1987).

Entre outros nomes que gravaram parcerias da dupla estão Nana Caymmi, Zizi Possi, Belô Velloso, Maria Bethânia e Ney Matogrosso.

Mas a partir daí começou uma inexplicável seca. Suas canções passaram pelas mãos de muitos intérpretes, que diziam ter adorado, mas acabavam ficando de fora dos discos. Até que, em fins de 1993, Bastos, que na época começava o seu selo, Dubas Música, pegou uma fita com a voz e o violão de Fonseca, e transformou-a no disco "Sorte".

– Na época, eu trabalhava em outro disco meu, "O som do sim", que foi lançado pela Natasha, e sugeri que o nome de Ronaldo também fosse incluído na capa, como um duo mesmo - conta Fonseca, que, hoje, vê defeitos no trabalho de estréia da "dupla". – Penso que tem problemas de voz, algumas canções poderiam estar mais bem gravadas.

Três anos depois, "Paradiso", trazia outra ótima safra de canções, dessa vez com produção e instrumental mais ambiciosos, incluindo participações de músicos como Robertinho Silva (bateria), Nivaldo Ornelas (saxofone), Vittor Santos (trombone), Marcos Suzano (percussão) e Arthur Maia (baixo).

Para Bastos, este é o seu predileto, mas foi o seguinte, "Juventude/Slow motion bossa nova", em 2001, que botou suas canções no ar.

Principalmente a faixa-título, que foi a trilha sonora de cinco comercias de TV para uma marca de sandália estrelados por Giselle Bündchen.

– No quinto comercial da campanha, tive o prazer de ouvir "Slow motion...." na voz de Jamelão. Ele me disse no estúdio que não sabia pronunciar direito aquelas palavras em inglês, respondi que o que valia era a intenção dele, e realmente ficou ótimo - relembra Fonseca, que também viu o mercado externo se abrir para suas versões contemporâneas do samba e de outras bossas.

Contratado pelo selo belga Crammed (o mesmo que lançou Bebel Gilberto no mundo), Fosenca fez por lá os discos "Natural" (em 2003, no ano seguinte distribuído no Brasil pela Universal) e "River Gauche Rio" (2005, este ainda inédito entre nós) e tem conseguido na Europa, no Japão e no Estados Unidos repercussão para seu trabalho bem maior do que aqui - a exemplo do que também acontece com a carreira de, entre outros, Joyce e Marcos Valle.

Enquanto isso, Ronaldo Bastos segue compondo, com Fonseca e demais parceiros, e tocando a gravadora independente Dubas Música.

– Só escrevo música porque quero cantar, e só faço discos para fazer capas – diz Bastos, que botou sua voz (afinada e de belo timbre) na citação de "A voz do morro", de Zé Kéti, utilizada em "La piú bella del mondo" (canção do italiano Marino Marini incluída no disco "Slow motion" e agora também em Polaróides"), e prepara-se para estrear no palco como cantor.

Ele, Fonseca e a atriz Denise Bandeira divertem-se há meses ensaiando um show no qual cantam por prazer suas canções e clássicos que vão de Stevie Wonder a Tom Jobim.

“O fato de querer ser cantor quando menino me fez compositor”, revela. Desistiu dos microfones ao ouvir a gravação da própria voz. “Não sei se o gravador era ruim”, diverte-se.

Por conta dos tais “15 segundos” no disco do parceiro Celso Fonseca e a convite da amiga Denise Bandeira, os três estão ensaiando uma espécie de versão contemporânea de O poeta, a moça e o violão, espetáculo que reuniu Vinícius de Morais, Toquinho e Clara Nunes na década de 1970.

“O primeiro título que nós demos para o show foi Os buena vida”, brinca Ronaldo. Na verdade, cantarolar sempre foi uma constante na vida do compositor e produtor, que acabou convivendo intensamente com as melodias antes de letrá-las. “Por isso mesmo, acabo ensinando alguma coisa aos amigos e parceiros cantores”, orgulha-se o discípulo de Dorival Caymmi e Tom Jobim.

“Costumo dizer a eles que o cara que mais me influenciou a fazer música foi João Gilberto, por ser um compositor que canta”, entrega mais uma vez. Longe de querer usar de privilégios no cenário em que muita gente canta mais e melhor do que ele, Ronaldo Bastos está interessado, mesmo, em inventar canções.

Ronaldo avisa: o que move o mundo do show business é a canção. E ela vai muito bem, apesar de acusada de “formato ultrapassado”.

“Tudo que acontece – as gravadoras, as sociedades de autores, os shows, os discos – é produto da canção”, defende o sócio-proprietário do selo Dubas Music e diretor da União Brasileira de Compositores (UBC), que administra direitos autorais de 7 mil artistas.

Sem bons títulos, garante ele, o atual mercado musical vai continuar na UTI. “A canção, no entanto, não morreu. Ela é a base de tudo.”

De olho na discussão crescente de questões contemporâneas, o letrista reforça a tese de que a canção jamais será vencida. “Ela não vai desaparecer, muito menos o disco e as gravadoras, que, mal ou bem, com todos os erros dos últimos tempos, gravaram a música do mundo.”