×

Biografia de Gene Vincent

Gene Vincent (USA) - Rock_Rockabilly

Não existe aquele indivíduo que escute rock 'n' roll e não conheça "Be-Bop-A-Lula"! Com um mega-hit e uma série de compactos de menor expressão, Gene Vincent And The Blue Caps é uma das melhores referências para rockabilly existente em disco.

Eugene Vincent Craddock nasceu no dia 11 de fevereiro de 1935 na cidade de Norfolk, Virginia, nos Estados Unidos. De família humilde, Eugene, ou Gene, como passou a ser chamado, costumava caçar cisnes ilegalmente para a família ter o que comer. Como muitos dos seus contemporâneos, Gene começou cantando na igreja e aos 12 anos de idade ganhou seu primeiro violão. Aos 15 ele abandonou os estudos, mentiu sobre sua idade e se alistou na marinha em 1952.

Em Julho de 1955, um evento inesperado acaba por ferir seriamente sua perna. A verdade atrás deste incidente é uma daquelas histórias que ninguém nunca saberá com certeza. Ele mesmo a cada hora contava o evento de uma forma. Ora ele diria que foi baleado, ora a culpa teria sido de uma mina terrestre ou então, um acidente com o tubo exaustor de um submarino no qual servia. Outros costumam contar que o incidente ocorreu com uma motocicleta durante uma folga. Uma mulher dirigindo um Chrysler avançou o sinal e acertou Gene que guiava sua nova Triumph, esmagando seriamente a perna. Qualquer que seja a versão correta, o certo é que sua perna ferida foi motivo de constante dor por toda sua vida. Ele foi aconselhado por diversos médicos a amputar a perna para se livrar desta dor, coisa que ele sempre se recusou a fazer. Depois de várias operações, foi colocada uma placa de aço para que a perna pudesse sustentar o peso do seu corpo.

A marinha o mandou de volta a Norfolk para se recuperar e foi neste período que ele acabou formando uma banda, tocando no circuito country nas cercanias da sua cidade. Paralelamente, arrumou um emprego na rádio WCMS cantando ocasionalmente com a banda da rádio, The Virginians. Apresentou-se no programa Country Showtime onde chamou a atenção do DJ, Sheriff Tex Davis, que lhe passou a notícia de que a Capitol Records estava promovendo uma caça por talentos, à procura do próximo Elvis. Aqui novamente temos diversas versões para os fatos que vieram a seguir.

1 - Gene e seu colega Donald Graves pegaram o trem para a Califórnia, e pelo caminho passavam o tempo lendo revistas em quadrinhos da Luluzinha. Assim, em uma tarde particularmente alcoolizada, e inspirado na Luluzinha, escreveram "Be-Bop-A-Lula".

2 - Gene conheceu Donald Graves no hospital enquanto se recurperava das suas operações. Passavam o tempo lendo revistas em quadrinhos da Luluzinha. Donald e Gene escreveram "Be-Bop-A-Lula" inspirado no personagem. Depois o DJ Sheriff Tex Davis pagou US$25.00 a Graves por sua parte na canção. Tirou o nome de dele da autoria e colocou o seu próprio como co-autor.

3 - Donald Graves escreveu a canção sozinho depois de ter passado dias lendo Luluzinha e conversando sobre rock com seu colega de quarto Gene, no hospital. Vendo potencial na canção, Gene teria pago US$50.00 nela.

4 - Gene Vincent e Sheriff Tex Davis escreveram a canção não tendo qualquer participação de Graves em sua composição.

Novamente, como as lendas tendem a perpetuar, jamais saberemos ao certo. O que é fato conhecido é que Sheriff Tex Davis fechou contrato com um jovem e impressionável Gene Vincent que colaborou com ele em composições futuras.

Chegando em Los Angeles, havia um total estimado de 250 pessoas disputando a vaga mas Gene foi quem ganhou. Como ele mesmo diria, "só haviam duas músicas originais em todo o concurso e a minha era a melhor." Existe uma outra versão desta historia que diz que ainda em Norfolk, gravaram um demo tape de "Be-Bop-A-Lula", "Race With The Devil" e uma balada bem country chamada "I Sure Miss You" com o financiamento de Tex Davis, que por sua vez a mandou para a Capitol. Isso teria acontecido em 9 de Abril e três semanas depois a Capitol solicitava que Gene e suas banda comparecesse ao studio de Owen Bradley em Nashville.

No dia 4 de maio de 1956, Gene Vincent e os rapazes ficaram presos por horas no aeroporto aguardando as nuvens baixas dissiparem para que os aviões pudessem ser liberados para vôo. Para matar o tédio começaram a tocar e logo o aeroporto ficou em clima de festa. Com um certo atraso, entravam no estúdio para gravar quatro títulos, que transformariam Gene em uma lenda do rock. O produtor Ken Nelson, destacado para gravar este novato, tinha suas dúvidas quanto à banda, os Blue Caps, que iriam lhe acompanhar. A banda consistia em Galloping Cliff Gallup na guitarra principal, Jumpin' Jack Neal no baixo, Wee Willie Williams na guitarra rítmica e Be-Bop Harrell, que na ocasião tinha apenas 15 anos de idade, na bateria.

Acostumado a bandas com muita promoção e pouca produção, Nelson deixou uma equipe montada por músicos profissionais de prontidão para o caso desses novos astros não terem o nível necessário. Mas bastou ouvir a mão ágil e os solos criativos de Cliff Gallup na guitarra para saber que os músicos na reserva não seriam necessários e logo foram dispensados. Cliff tocava uma Gretsch Black Duo Jet com amplificação Fender e captadores Dynasonic/DeArmond. Criou pedais para echo construídos por ele mesmo, usando peças de gravadores antigos, o que dava uma reverberação à sua guitarra que se tornou standard para o som até hoje associado com o rockabilly clássico. Usava palheta normal em conjunção com palhetas tipo dedal nos dedos do meio e ainda usava a alavanca para vibrato com o dedo mindinho. A sua forma de tocar, assim como seu gosto para timbres, tem sido a "bíblia" para o estilo, influenciando todos os posteriores e muitos contemporâneos ao seu trabalho.

Ao final daquela sessão, nascia "Be-Bop-A-Lula/Woman Love", o seu primeiro compacto. A canção lançada no dia 2 de Junho de 1956 foi direto para os dez mais, se estabilizando em 7º lugar e vendendo 200 mil copias até o final do mês. Muita gente na época achava que se tratava do próprio Elvis. Até mesmo a senhora Gladys Presley, mãe de Elvis, após ouvir a canção no rádio, mandou um telegrama para o seu filho congratulando-o pelo seu novo sucesso. Embora sua voz pudesse ser facilmente confundida com a de Elvis Presley, na verdade o estilo de Gene Vincent era bem menos melodramático que o do rei.

Com o primeiro compacto nascia também a sua imagem de "bad boy" de um rock 'n' roll ainda selvagem e menos industrializado, o que é bem ilustrado pelo seu lado B, "Woman Love", que lhe criou problemas para divulgação radiofônica. Na verdade, "Woman Love" saiu originalmente como lado A, sendo passado posteriormente para o lado B pelo fato de os Dj's recusarem tocá-la. Em parte isso se deve aos excessivo apelo sexual, com Gene gemendo paixão efusivamente. E em parte porque, na letra, a palavra hugging tem seu "h" soando muito com o som de um "f". Por este motivo, Gene foi multado em US$10,000 por obscenidade, julgado à revelia, uma vez que ele estava excursionando e não pode parar tudo para se defender da acusação.

Mas Gene nem ligou, pois já era um astro cantando 350 dias ao ano e ganhando muito dinheiro. Sua banda, The Blue Caps, Os Quepes Azuis, uma referência ao quepe azul que o então presidente Eisenhower usava sempre que jogava golfe, estava sempre ao seu lado em todas as suas apresentações. É seguro dizer que The Blue Caps foi uma das melhores bandas de rock ou rockabilly da época. No palco, Gene era a própria excitação, pulando e se movimentando como poucos. Às vezes levantava a perna da calça para mostrar a placa metálica na sua perna ruim, se achasse que o público estava indiferente ao seu espetáculo. Certa vez, empolgado pelo público, pulou do palco à platéia e acabou quebrando sua perna boa.

Seu segundo compacto, "Run With The Devil", vendeu muito pouco mas como "Be-Bop-A-Lula" continuava vendendo bem, Gene foi convidado a gravar um LP. O fracasso comercial de seu segundo single foi mais por problemas culturais já que foi considerado inadequado pelas rádios promover uma canção com o nome do diabo no título.

O LP "Bluejean Bop" com suas 16 faixas, foi gravado em dois dias. Como tudo estava acontecendo tão depressa, Gene não tinha canções novas suficientes para encher um Long Play. Assim, utilizaram standards como "Jezebel", "Peg O' My Heart" e "Up A Lazy River", temas nem um pouco roqueiras mas que, com a voz e o instinto natural de Gene para baladas somados a guitarra elaborada de Cliff, Nelson conseguiu capturar em fita a atmosfera necessária para englobar os contrastes destas canções com os demais materiais roqueiros da banda em uma só unidade.

A banda contribuiu largamente para a atmosfera excitante destas gravações com gritos de "Woo" e "Yeah" no meio das canções. Nunca é demais lembrar que a técnica de gravação da época não previa playback. Consistia sim, em gravar todos ao mesmo tempo "ao vivo" no estúdio. Seu terceiro compacto, "Blujean Bop", foi outro grande sucesso e colheu um disco de ouro.

Durante toda a segunda metade da década de 50, seus compactos eram bem aceitos mesmo sem serem hits propriamente ditos. "Race With the Devil", "Bluejean Bop", "Gonna Back Up Baby" e "B-I-Bickey-Bi, Bo-Bo-Go", embora não estivessem entre "Os Dez Mais" (Top Ten) das rádios, são registros de rockabilly em sua forma mais exuberante, cheios de força, ímpeto e vibração.

Cliff Gallup, cansado das constantes viagens por todo o país, informou que estava saindo da banda. Aos 26 anos de idade e casado, foi convidado ainda a trabalhar como "sessionman" (músico de estúdio) por Ken Nelson, mas recusou o convite. Gallup abandonou a vida de músico profissional tocando em bares locais só nos fins-de-semana. Já na decada de 60 e 70 tocou com a banda Carolina Charlie and The Four C's que servia muitas vezes como banda de apoio para músicos country excursionando sem banda fixa. Alem de Gallup os Four C’s incluiam Charlie Wiggs nos vocais, Felton Clark no baixo e Art Newbern na bateria. Gravaram um disco chamado "Straight Down The Middle" pelo selo Pussycat (PCLPS 701) no final dos anos sessenta. O álbum inclui pérolas como "Girl From Ipanema", "September In The Rain" e "Be-Bop-A-Lula" além de duas composições de Gallup, "Mean" e "Come On In". Gallup faleceu de um ataque cardíaco em 1988.

Ainda no ano de 1956, Gene participou do filme "The Girl Can't Help It". Gene aparece com os Blue Caps apresentando "Be-Bop-A-Lula" em playback. A formação da banda continha um jovem Russell Wilaford na guitarra fazendo toda a mímica enquanto o solo de Cliff Gallup soa pelos alto-falantes. Willie Williams que também havia saído por não agüentar a vida na estrada foi substituído por Paul Peek. Wilaford embora pose em diversas fotos de publicidade como membro do Blue Caps, jamais gravaria nada com a banda sendo substituído pouco depois.

Para o sucesso do segundo LP de Gene, Nelson conseguiu convencer Gallop a voltar ao estúdio pela última vez. Então, em Outubro, foram gravadas com ele mais uma série de músicas nas quais se inclui "Five Feet of Lovin'", "You Better Believe", "Cat Man", "Pink Thunderbird" e "Crusin'". O LP "Gene Vincent And the Blue Caps" sairia em Março de 1957 e venderia bem. O material com a dupla Vincent e Gallup soma ao todo cerca de 35 canções espalhadas entre álbuns, coletâneas e lados B.

Ao final do ano, a sua perna voltava a dar problemas, inclusive sangrando seguidamente. Era óbvio que Gene precisava de um descanso mas ele ainda assim insistiu em continuar se apresentando até que seu baixista, Jack Neal e seu empresário Tex Davis pediram as contas e saíram. Com apenas Dickie Harrell entre os Blue Caps originais e sem empresário, Gene relutantemente voltou para o hospital da marinha para uma série de novas operações em sua perna.

Durante esta fase de recuperação, Paul Peek, insistiu que Gene ouvisse uma banda da Carolina do Sul com quem Peek havia tocando, em especial, os solos do seu guitarrista, Johnny Meeks. Gene ficou bem impressionado e o contratou assim como seu baixista Bill Mack. A nova formação dos Blue Caps ficou então com Johnny Meeks na guitarra líder, Paul Peek na guitarra rítmica e backing vocals, Bill Mack no baixo, Dickie Harrell na bateria e mais Tommy "Bubba" Facenda, amigo de infância de Dickie, contribuindo nos backing vocals.

Recuperado, Gene levou seus Blue Caps para estrada tocando e dividindo apresentações e despesas com gente como Roy Orbinson, Carl Perkins e Eddie Cochran. Nesta época, após uma discussão com Gene, Bill Mack foi substituído por Bobby Lee Jones.

Seu produtor, Ken Nelson conseguiu um contrato com a agencia McLemore Artist & Services Bureau para empresaria-lo e à banda. Esse contato apresentou Gene à Johnny Carroll e Buddy Knox, que se tornariam grandes amigos. Inclusive o trabalho destes dois sofreria mudanças, sendo fortemente influenciado pelo estilo Vincent de interpretar uma canção.

A partir desse ponto, os registros de Gene Vincent são cada vez mais produzidos, com backing vocals convencionais e, embora contenham material de bom nível, podem ser ouvidos com uma certa desconfiança em comparação a seu material anterior, bem mais instigante, cru e selvagem. Ainda assim, "Lotta Lovin'" e "Dance To The Bop" se tornam seus últimos hits.

Desta vez, é Dickie Harroll quem está desgastado de tantas viagens e pede para sair. Antes porém, ele se apresenta pela última vez ao lado dos Blue Caps no Ed Sullivan Show no dia 17 de Novembro, 1957. O restante do ano foi dentro do estúdio preparando para o terceiro LP: "Gene Vincent Rocks And The Blue Caps Roll", que sairia novamente em Março do ano seguinte. A novidade foi a inclusão de um piano nas gravações, executada pelo novo membro, Max Lipscomb.

Com a virada do ano, Gene passou a ter cada vez mais dificuldades de manter um plantel fixo sobre o nome de Blue Caps. Lipscomb, Peek and Facenda resolveram seguir carreiras solos enquanto Gene estava na eminência de filmar "Hot Rod Gang", um filme cuja historia giraria em torno dele, e na qual quatro músicas suas seriam apresentadas. Ele montou então uma nova banda com Grady Owen na guitarra rítmica e outro baterista de 15 anos de idade, Juvey Gomez. O proximo passo foi conseguir convencer Peek e Facenda a se apresentarem no filme uma vez que os vocais eram parte importante no som da banda.

Após as filmagens, Gene entrou mais uma vez no estúdio para uma nova série de gravações. Para a vaga de guitarrista dos Blues Caps nestas sessões, foi convidado seu grande amigo Eddie Cochran. Com solos e backings à altura de sua fama, Cochrane tornou essas sessões históricas. Canções como "Git It", "Peace Of Mind", além de uma linda versão para "Now Is The Hour", são exemplos de harmonias clássicas do rock 'n' roll desta geração pre-Beach Boys, tendo a voz de Cochran claramente audível em pelo menos oito dos quinze números gravados. "Rocky Road Blues" e "Summertime" seriam gravados já sem a presença de Cochran que saiu para suas próprias sessões donde surgiria o seu clássico "Summertime Blues". O álbum de Vincent saiu com o nome "A Gene Vincent Record Date".

Com o filme "Hot Rod Gang" nos cinemas e o disco novo nas lojas, Gene e a banda voltam para a estrada, excursionando com Eddie Cochran e Little Richard pelo país e, pela primeira vez, na Austrália. Sem ter um hit tocando nas rádios e se apresentando incansavelmente mundo afora com um dos roqueiros mais selvagens do rock, Os Blue Caps estavam se desintegrando rapidamente. Em Outubro de 1958 Gene resolveu iniciar as sessões que seriam as últimas suas com a banda. Não usaria mais o nome Blue Caps. Johnny Meeks permanecia na guitarra mas a banda tinha agora uma dupla no sax; Jackie Kelso no tenor e Plas Johnson no baritono. Essas sessões produziriam números como "Important Words", "I Got To Get To You Yet" e "Say Mama". Infelizmente cada vez menos Dj's estavam se interessando em divulgar material de Gene Vincent e antes de 1959 chegar the Blue Caps acabaram de vez. Desiludido, Vincent também encerra seu contrato com a agencia de McLemore.

O inicio do declínio que o rock 'n' roll sofreria na América começava em 59. O sistema tentava amainar o rock excessivamente selvagem com artistas mais calmos, moldados em ídolos teens bem mais controláveis. Os mais selvagens eram despachados de uma maneira ou de outra. Elvis foi parar em serviço militar, Little Richard virou repentinamente crente e passou a cantar para Deus, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis acabaram presos por problemas legais envolvendo menores; e assim vários dos que sobraram acabaram migrando para a Europa.

Gene antes foi para o Japão. Como banda, montara um grupo de músicos profissionais para a ocasião incluindo o baterista Clayton Watson e seu novo grande amigo, Jerry Merritt na guitarra. A temporada de três semanas no Japão iniciou com 10.000 pessoas aguardando no aeroporto com cenas de frenesi inimagináveis. Todos os shows tiveram sua lotação esgotada mas Gene, o bad boy selvagem de costume, jogou tudo fora e voltou para casa ainda faltando três apresentações para terminar seu contrato. Já ouviu aquela velha historia de que todo japonês parece igual? Pois é, Jerry Merritt continuou a excursão imitando e se passando por Gene Vincent honrando assim os contratos desta lucrativa excursão.

No inicio de Agosto, Gene volta ao estúdio para gravar mais um LP. A banda montada para acompanhá-lo consistia em Jerry Merritt na guitarra, Red Callender no baixo, Jackie Kelso novamente no sax, Jimmy Johnson no piano e Sandy Nelson na percussão. Nos vocais foram chamados The Eligibles e o álbum ganhou o título de "Crazy Times".

O disco fez pouco para revitalizar sua carreira, portanto seu próximo passo foi Londres. Este foi o passo crucial em sua carreira, não só salvando-o de uma obscuridade eminente mas elevando Gene a status de idolatria, coisa que ele nunca havia experimentado em tamanha proporção. Estreou no programa televisivo "Boys Meet Girls" sendo um estrondoso sucesso. Sua imagem em couro preto com um medalhão no pescoço é lembrado até hoje na Inglaterra.

Apresentações impressionantes seguem por toda excursão que muitas vezes eram divididas com outros astros como Carl Perkins, Eddie Cochran e mais tarde Little Richard, que voltava ao rock depois de um período religioso. Gene gravou o single Wild Cat que vendeu bem seguido depois por "My Heart", chegando ao 16º posto das mais tocadas, seu maior hit em três anos.

Gene e Eddie já eram grandes amigos e passaram a tocar juntos, cada um na apresentação do outro. Ao término da "Anglo-American Beat Show", no dia 17 de abril de 1960, os dois, Gene e Eddie mais a namorada de Eddie, Sharon Sheeley, tomaram um táxi para ir de Bristol até o aeroporto de Londres. Na altura de Chippenham, no condado de Wilshire, por volta de uma da manhã, o motorista acertou um poste de concreto a 112 km por hora. Gene quebrou um braço e Eddie voou do carro, morrendo dois dias depois.

Enquanto excursionava com Cochran, os dois fizeram planos para regravar uma velha canção de Al Dexter, "Pistol Packin' Mama" em versão roqueira. Gene foi ao funeral do seu amigo nos Estados Unidos e voltou a Londres onde acabou fixando residência, comprando uma casa e passando a excursionar regularmente pela Inglaterra, França e Alemanha. Em 11 de Maio de 1960, Gene Vicente entra no estúdio da EMI que anos mais tarde ganharia o nome de Abbey Road Studios e grava "Pistol Packin' Mama" que foi lançado quase imediatamente chegando a No. 15 nas paradas, seu maior sucesso na Inglaterra.

Gene passa o resto do ano como também o ano seguinte indo e vindo da Inglaterra para Estados Unidos e de volta. Gravando nos dois lados do Atlântico, é na Inglaterra onde ele tem os seus admiradores mais leais. Faz uma aparição no filme "It's Trad, Dad" onde aparece todo vestido de couro branco e cantando "Spaceship To Mars" com sua nova banda, The Sounds Incorporated. Ele gravou também uma versão alternativa dessa canção pensando em lança-lo mas a Capitol preferiu trabalhar com "Lucky Stars", canção já lançada na América meses antes.

Em inicio de 1962 excursiona com Brenda Lee no "King And Queen of Rock Tour". Depois foi a Hamburgo, tocando no Star Club na mesma época que um desconhecido grupo chamado The Beatles que, não por acaso, também se vestiam de couro como ele. Gene chegou a pensar seriamente em contratá-los como sua banda mas a idéia acabou não se materializando. Seu contrato com a Capitol acabou em 1963 e não foi renovado. A esta altura, os Beatles já eram detentores de três No.1 no hit parade londrino e depois deles, o rock nunca mais foi o mesmo. Mas até o final do ano, Gene já estava assinando com a Columbia. Gravou então "Where Have You Been All My Life", canção de Arthur Alexander e participou do filme "Live It Up" onde cantou "Temptation Baby". Essas gravações ajudam Vincent a firmar seu nome na cena roqueira que está em plena mutação, dando credibilidade ao seu trabalho como sendo atual e não como um artista do passado.

Gene continuou a manter sua carreira ativa na Europa até 1965, quando voltou à América para uma série de cirurgias na perna. Em sua terra natal, ninguém sabia o que havia acontecido com ele, afinal já havia se passado sete anos desde sua migração européia. Muitos achavam que ele estava decadente, trabalhando como frentista em algum posto de gasolina no sul. Outros diziam que ele havia morrido e houve até quem publicasse um obituário no jornal. Gene lentamente recuperou sua saúde enquanto assistia horrorizado outra revolução no rock. Com flower power e psychedelia à sua volta, Gene pensa em se aposentar, porém a falta de base financeira o obriga a voltar à estrada. Uma serie de ex-empresários e ex-esposas já haviam detonado a pequena fortuna em direitos autorais levantada por ele.

Aos 31 anos, Gene Vincent volta a tentar retomar sua carreira na Inglaterra em 1967. Infelizmente Gene também retorna à sua rotina auto-destrutiva embevecida em álcool. Gravou pela Electra um álbum muito fraco, sem conter nada que lembrasse o espírito erótico e instigante de outros tempos. Gravou depois pela Buddah Records um disco melhor, mas este também passou despercebido. De fato, até suas apresentações durante o final da década de 60 e início de 70 ficaram um tanto caricatas. Trajando uma tradicional roupa de couro, sua marca registrada, dentro de um corpo já gordo e debilitado, Gene se recusava a enxergar que seu tempo passara. Tocou no "Toronto Rock And Roll Revival Festival", onde reencontrou os amigos Jerry Lee Lewis e John Lennon, além de outros contemporâneos. Depois tentou de novo sua sorte na Europa, mas depressivo e alcoólatra, sua saúde debilitada só piorou sua presença de palco, até que aquela porta também se fechou.

Em Setembro de 1971, Vincent grava quatro canções, cantando sozinho sem acompanhamento. A música seria adicionado posteriormente e o material lançado em 1980 como álbum póstumo. No dia primeiro de Outubro, após ensaiar 12 músicas para uma excursão na Inglaterra, ele grava outras cinco faixas que acabaram saindo no LP "The Last Sessions". Vincent conseguiu honrar dois shows, respectivamente dias 3 e 4 de outubro no Wookey Hollow Club em Liverpool. Em seguida saiu voando de volta para a Califórnia e para o hospital. No dia 12 de Outubro de 1971, Gene Vincent morre de uma úlcera hemorrágica no Intervalley C. Hospital, em Newall, Califórnia. Apaga-se a estrela rara de um dos roqueiros mais autênticos e grande mito da primeira geração do rock.

Como requiem, em Julho de 1994, Jeff Beck lança um disco homenagem a Gene Vincent e seus dois principais guitarristas, Cliff Gallup e Johnny Meek. O disco, chamado "Crazy Legs", apresenta um Jeff Beck pouco conhecido, amante de rockabilly. Beck em busca de autencidade chega ao requinte de utilizar exatamente a mesma guitarra, uma Gretsch Duo Jet completa, com captadores DeArmond, na maioria das faixas.

Discografia:


Bluejean Bop! (1956)

Gene Vincent & His Blue Caps (1957)

Hot Rod Gang [OST] (1958)

Sounds Like Gene Vincent (1959)

Crazy Times (1960)

Crazy Beat (1963)

Shakin' Up a Storm (1964)

Gene Vincent (1967)

Gene Vincent Rocks! & the Blue Caps Roll (1968)

Gene Vincent Record Date (1969)

I'm Back and I'm Proud (1970)

The Day the World Turned Blue (1971)

If Only You Could See Me Today (1971)

Bop That Just Won't Stop (1974)

The Last Session (1987)