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Testamento

Joana Amendoeira

À rapariga mais nova
Do bairro mais velho e escuro
Deixo meus brincos, lavrados
Em cristal límpido e puro

E aquela virgem esquecida
Sonhando alto uma lenda
Deixo o meu vestido branco
Todo tecido de renda

E este meu rosário antigo
De contas da cor dos céus
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus

E os livros, rosários meus
Das contas doutro sofrer
São para os homens humildes
Que nunca souberam ler

Quanto aos meus poemas loucos
Esses que são só de dor
E aqueles que são de esperança
São para ti, meu amor

P’ra que tu possas, um dia
Com passos feitos de lua
Oferecê-los às criança
Que encontrares em cada rua






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