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Negão

João Terra

Era um negão crescido e são
Que tinha tudo para ser bandido
Criado ali num barracão
Entre os amantes do perigo
Era um negão assim, mas, não...
Não abraçou a valentia
Um operário em construção
De outra massa se fazia
E foi em vão que seua irmãos
Tentaram conduzi-lo ao crime
Sorria e só, com gratidão,
Mas ia jogar n’outro time
Era um negão cheio de dom
Que tinha tudo para ser artista
Bom de gogó e violão
Compositor e bom sambista
Mas pobretão, sem um tostão
Sem sobrenome e sem padrinho
Empoeirou um violão
Ali num canto do quartinho
E foi em vão que seus irmãos
Tentaram condizi-lo à fama
Desiludido, deixou prá lá
Foi mais um sonho que ficou na cama
Era um negão cheio de luz
Que tinha tudo pra ser um santo
Bom coração, inspiração
Palavras de magia, encanto
Tinha visões, revelações
Trazia o dom da profecia
E lá no morro, muitas vezes
O corpo dele reluzia
Era um negão assim, mas, não...
Ninguém sacou o que ele fazia
Como milhões de outros negões
Que passam por aqui um dia






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