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Dia Não

Katia Guerreiro

Acordei, era domingo
Saltei da cama contente
Nas torneiras nem um pingo
Nem nas tomadas corrente

Quis fugir à barulheira
Do vizinho c’oas mudanças
Na escada, a minha porteira
Deu-me um postal das finanças

Dia não é dia não

Tentei comer descansada
Na tasca da minha rua
A carne vinha queimada
A batata vinha crua

Depois fui ao corte inglês
Para assistir à sessão
Era um filme japonês
Legendado em alemão

Dia não é dia não

Arejando à beira rio
Apeteceu-me ouvir fado
Fui à tasca do vadio
O chico tinha faltado

Era tal a ganideira
Quis gugir mas ao pagar
Dei por falta da carteira
Inda tive de cantar

Dia não é dia não

Saí com um grão na asa
Uma nódoa no casaco
Perdi as chaves de casa
Acabou-se-me o tabaco

Deitado contas à vida
Comecei a andar a pé
Atravessei distraída
Fui para a s. José

Dia não é dia não

Por ter uma mão dorida
Fiquei três horas na bicha
E quando fui atendida
Houve um engano na ficha

Acordei na enfermaria
Alguém disse com voz terna
Correu bem a cirurgia
Engessámos-lhe uma perna

Dia não é dia não

Em descanso finalmente
Pensei ao ver-me em pijama
Ele há dias em que a gente
Não deve sair da cama






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