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Natalino

Leonardo (gaúcho)

Natalino nasceu como nascem milhões de piás
Em um rancho coberto de palha com nome de santa fé
Recebendo beijos suado do pai
Plantador de um pedaço de chão do patrão.
Cujos cobres das sobras não cabem nos calos das mãos

Natalino cresceu como crescem milhões de piás
Esperando o natal pra ganhar um presente do céu
E ao ganhar a razão guardou seus sapatinhos
E entendeu que a miséria do mundo é maior que o carinho.

E as primeiras letras que ele aprendeu
Cheio de esperança para o céu escreveu;
Já que deus criou estes campos sem dono
Que desse ao pai um pequeno pedaço.

Pra que colhesse os frutos da vida
A valorizar o suor e o cansaço
Dobrou o bilhete da sua esperança
E pos na janela seu sonho criança
Rezou e dormiu pois era natal.

Sonhou com fartura, brincou de patrão
Usou roupa nova que o sonho lhe deu
Viu duas cacimbas nos olhos do pai
Que afinal ganhara um canto seu.

Ma sno outro dia o sonho acabou
E estava o bilhete como ele deixou
Então Natalino humano, menino
M sua inocência se pos a pensar.

Pra que os ricos cresçam precisam os pobres
E meu pai não o direito dos nobres
Talvez jamais tenha um lugar pra plantar
Natalino chorou como choram milhões de pias.






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