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Biografia de Los Gatos

Em Rosário, cidade localizada 300 km ao norte de Buenos Aires, iniciava-se a carreira de mais uma dessas bandas de rock seguindo a tendência Beatlemania mundial.

De início, auto-intitulada The Wild Cats, o grupo logo verteu o nome para o espanhol, Los Gatos Salvages, antes de transformar-se definitivamente em Los Gatos, no ano de 1967.

Foi com este último nome que eles vieram a se consagrar e se transformar num dos mais importantes da história do rock argentino, sobretudo pelo repertório feito a partir de composições originais, escritas em espanhol, na contra-corrente das demais bandas de então que baseavam seu repertório em meros covers de sucessos importados, geralmente interpretados em idioma inglês.

Mas, em 1964, Los Gatos Salvages ainda era apenas mais um conjunto, entre tantos outros, que se apoiava em material produzido pelas bandas inglesas do momento, como The Hollies, Dave Clark Five e Gerry and The Pacemakers.

Contudo, instigados pelo ainda adolescente mas talentoso guitarrista, compositor e cantor do grupo, Litto Nebbia, a banda pouco a pouco foi vertendo para o espanhol o material alheio, originalmente escrito em inglês, como também passou a introduzir, em suas apresentações, composições próprias.

Nessa época, as atuações do grupo ainda não haviam ultrapassado as fronteiras de Rosário e municípios vizinhos.

Embora sem visibilidade na capital, Buenos Aires, a banda atraiu a atenção dos responsáveis pelo programa de televisão ‘Escala Musical’, do Canal 13.

O contrato assinado com o grupo por dois meses, logo prorrogado por mais oito, tornou a mudança de Los Gatos Salvages para Buenos Aires inevitável.

O ano de 1965 prometia. A presença constante dos "gatos selvagens" na televisão, além de apresentações em festas, boliches e outros locais da moda resultou em um convite para gravarem um disco. Logo chegava ao mercado um compacto com ‘La Respuesta’, em seu lado principal, seguido de um LP recheado de covers e composições originais.

Contudo, a vendagem fraca dos discos e o fim do programa de TV, fez com que a banda se desmembrasse e tomasse o caminho de volta para casa. Litto e Ciro, porém, decidiram permanecer na capital.

Durante todo o ano de 1966, os dois remanescentes de Los Gatos Salvages tentaram, aqui e acolá, mostrar seu trabalho. Litto e Ciro tocaram em bares e até mesmo em praça pública.

Mas foi em La Cueva, uma espécie de Cavern Club argentino, reduto onde a juventude roqueira se encontrava em Buenos Airtes, que os dois músicos encontraram as portas abertas para suas apresentações. Foi quando decidiram refazer o grupo.

Além do baixista Alfredo Toth, amigo dos encontros em La Cueva, Litto e Ciro convocaram o guitarrista Kay Galiffi e o baterista Oscar Moro, amigos de Rosário, e puseram a banda em ação novamente.

Agora, com o nome reduzido para Los Gatos, Litto, Ciro, Alfredo, Oscar e Kay lançavam as primeiras sementes, através de suas apresentações, que fizeram brotar o rock "made in Argentina".

O talento de Litto como compositor fez-se notar através das melódicas canções que já dominavam o repertório do quinteto.

O público de La Cueva não era mais o único que testemunhava o crescimento deles naqueles idos de 1967. Porém, o grande salto de Los Gatos deu-se através de um compacto que lançaram em meados desse mesmo ano pela RCA.

A canção escolhida como lado A do single, ‘La Balsa’, foi responsável pela venda surpreendente de 200 mil cópias do pequeno disco. Uma vendagem extraordinária para o mercado local. As entrevistas e aparições em TV se sucederam. E, logo, também, a gravadora colocou no mercado o primeiro LP da banda, de título homônimo - Los Gatos.

Com o sucesso de ‘La Balsa’, uma composição de Litto Nebbia e Ramsés, o conjunto tornou-se, definitivamente, um dos principais bastiões do rock cantado em espanhol.

Apesar da existência de um compacto lançado em 1966 pelos Beatnicks, também cantado no idioma de Cervantes e a partir de material original, historicamente Los Gatos são considerados os verdadeiros iniciadores do rock argentino, tanto pelo volume quanto pela importância de sua obra.

O segundo álbum apareceu em 1968. Intitulado "Volúmen 2", o disco trouxe boas composições na linha beat, repetindo o clima de ‘Los Gatos’, de 1967.

O sucesso do grupo prosseguiu em singles como ‘Viento Dile a la Lluvia’, que alcançou mais de 100 mil compradores e serviu de introdução ao terceiro Lp, ‘Seremos Amigos’, também de 1968.

Aliás, foi quando o grupo saiu em turnê por alguns países vizinhos e veio participar do III Festival Internacional da Canção (FIC), no Rio de Janeiro, onde defenderam a composição de Litto Nebbia também usada para batizar o LP.

Além de representar a Argentina no FIC, o grupo fez uma apresentação especial para o público que lotava o Maracanãzinho. Durante o show, a banda mostrou qualidade tanto na execução do repertório original quanto em números como ‘Hush’, sucesso internacional na voz do cantor norte-americano Billy Joe Royal, aliás uma forma do quinteto argentino de manter a platéia interessada no som deles, que obviamente era totalmente desconhecido dos brasileiros.

A RCA Victor, aproveitou a passagem do grupo pelo Brasil e colocou no mercado um compacto simples com ‘Seremos Amigos’, no lado A, e ‘Viento Dile A La lluvia’, no lado B. O compacto tornou-se o único disco de Los Gatos lançado no Brasil e, conseqüentemente, um raríssimo ítem de colecionador.

A viagem ao Rio provocou a saida do guitarrista Kay Galiffi do grupo. Primeiro, ele trocou Los Gatos por uma brasileira. Depois, Buenos Aires pelo Rio de Janeiro, onde reside até hoje. Com a saida de Kay, a banda entrou em recesso. Litto gravou um álbum solo, participou do filme ‘El Extraño de Pelo Largo’ e viajou pelos Estados Unidos.

Quando voltou para a Argentina, em meados de 1969, entrou em estúdio com os demais integrantes de Los Gatos e com Pappo, o novo guitarrista escolhido para preencher a vaga deixada por Kay. Em nova formação, começaram a preparar o quarto LP do grupo.

O LP ‘Beat N. 1’ combinava as melodiosas composições de Litto com o vigor da guitarra de Pappo, permeadas, como sempre, pelo órgão saliente (sem trocadilhos, por favor!) de Ciro. Tudo isso bem amparado pela excelente cozinha de baixo e bateria, de Toth e Moro. ‘Sueña y Corre’, ‘Hogar’ e o viajante rock "Escuchame, Alumbrame" ajudam a transformar "Beat No. 1" em um dos melhores discos de Los Gatos.

Na virada dos anos 1960 para 1970, o rock argentino ganhava força com o aparecimento de bandas como Almendra, liderada por Luís Alberto Spinetta, um dos grandes ícones do rock portenho, e de nomes na cena musical local como Charly Garcia, nessa época ainda integrante do grupo de tinturas folk, o Sui Generis.

No Brasil, Kay Galiffi entrava para os Analfabitles, excelente banda beat brasileira que, apesar de ter no currículo dois excelentes compactos, acabou se destacando como grupo de baile tendo que tocar covers de The Rolling Stones, Cream e Steppenwolf, por exemplo, para poder sobreviver.

Kay também dava aulas de guitarra e violão e, ao longo dos anos, teve entre seus alunos os músicos Celso Blues Boy, Victor Biglione e o adolescente Roberto Frejat.

Quanto ao Los Gatos, as mudanças ocorreram na sonoridade do grupo. ‘Rock de la Mujer Perdida’ - o nome original ‘Rock de la Mujer Podrida’ fora vetado pela gravadora -, lançado em 1970, enveredou pelo rock, puro e direto, com destaque para a guitarra voraz e potente de Pappo.

Muitos argentinos consideram este LP como o melhor da discografia da banda de Litto Nebbia, Oscar Moro e companhia.

Apesar do estilo empreendido pelo grupo, possivelmente por influência de Pappo, foi este quem decidiu largar o grupo.

Com a saida de Pappo, que formou a Pappo's Blues, Litto passou para o baixo, ficando Alfredo com a guitarra. Infelizmente, a nova face da banda, agora um quarteto, não durou muito. Iniciaram as gravações de um LP que nunca chegaram a completar. Apenas um single extraído dessas gravações apareceu no mercado, em 1971.

O restante do material permaneceu inédito até 1987, quando a RCA colocou no mercado o disco intitulado ‘Inédito (En Vivo y En Estudio)’, no qual a gravadora casou essas gravações com parte de um show gravado no Teatro Odeon, em 1970, em Buenos Aires.

Com o fim do grupo, Litto seguiu em carreira solo enquanto Ciro, Alfredo e Oscar se espalharam pela cena roqueira local.