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Auto da Compadecida

Niggas Nerds

Eu tenho ídolos que nunca me deram a mínima atenção
Talvez por isso sinta culpa de ser admirado desse jeito
Minha preguiça mata minha dedicação
E é esse conflito que aperta cada coronária no meu peito
Não sei exatamente porque eu comecei a fazer rap
Mas hoje não consigo me imaginar sem rimar em um boom bap
Não sei porque minto, desengano, e rio
Mas sei que sem isso eu estaria com certeza por um fio
Uma vida de altos e baixos, autos e fatos, falsos hiatos
Em que cada desacato fez do meu mundo um lugar mais pacato
Mais pra gato escaldado que pra cabaço, com certeza
Mas ainda tem quem se sinta mais inteligente que eu na mesa
Tudo bem, minha vaidade nunca foi sobre achismos
Tudo bem, a viadagem é só fruto do machismo
Tudo bem, essa viagem é guiada ao taoísmo
Tudo bem, cada mensagem é filha de todo meu cinismo
E eu só sei que nada sei, seu sócrates me dá dó
E eu só sei que foi assim, como joão grilo e chicó
E nesse auto da compadecida, peço perdão de verdade
Será que Deus finge piedade tanto quanto eu finjo humildade?
Minha nossa senhora, a vaca da primeira carteira não vai rir
Eu que sentava na primeira carteira, e aí
É por isso que todo mundo escuta as merdas que eu falo
Eles pensam que diploma te deixa muito mais longe do ralo
Novidade, eu não tenho direito a cela especial
Na minha concepção, nessa merda, é todo mundo igual
Todo mundo nasce, morre, entra na merda dum caixão
E passa a eternidade enterrado debaixo de 7 palmos de chão
Salvem-se os tolos, os amantes, os que cuidam dos pobres
Os que pensam em todos, esses sim são os nobres
Eu só penso em mim, e por isso sei qual é meu destino
Eu sou peso e ruim, e por isso não chorei desatino
Mas se existem santos que venderam sua alma ao diabo
Me fodi, porque na minha ele não quis pagar um centavo
Nunca fui muito de acreditar em superstição
Mas meu signo é incrédulo, hein, não julgue não
Eu entendo quem se apega a horóscopos e mapas astrais
As estrelas são mais reais que todos os demais
Humanos ou animais, são seres carnais
E botariam qualquer um de seus interesses à frente da paz
Eu sei, confie em mim, já fiz isso algumas vezes
Ou talvez não confie tanto em quem não trabalha há meses
Ah, fazer música? Isso não é trabalho, isso passa
Até curto ser pago pra fazer o que faria de graça
Não vou pro céu, nunca me dei bem com a perfeição
Não vou pro inferno, nunca me dei bem com a rejeição
Não vou pra casa, nunca me dei bem com afeição
Eu sou problema, nunca me dei bem com solução
Ser feliz é um país muito longe de mim
E eu, sem passaporte, busco pra mim outro fim
Fim de papo, das contas, da conversa fiada
Fim do mundo pra quem tem a premissa quebrada
Quem nasceu pobre, sem ter o que comer, é coitado, sim
E se você perdeu a empatia, está aí mais um fim
O fim da linha pra quem há tanto tempo a perdeu
O fim da música se você chegou aqui como eu
E acreditava que eu tinha todas as respostas
Volte para casa com mais algumas perguntas repostas
Me desculpe, eu sei que errei tantas vezes, em tantos lances
Nossa senhora, o que eu te peço é: Me dê mais uma chance

Composição: Álvaro Mamute





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