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Mulher Pampeana

Odilon Ramos

E aqui estou eu meu gaud?o
em tempos de guerra e paz
sou aquela que te espera
sem saber se tu vir?

Nestes ser?solit?os
entre agulhas de costura
e velhos livros que li
fui alinhando as id?s
alinhavando verdades
at?ue um dia entendi.

Sou a hist? repetida
eu j?ivi outras vidas
eu j?ui outras mulheres
antes de ser a que sou.

Acho que at?ui Maria
Maria de Nazar?
De a cavalo, num burrinho,
com Jesusinho no colo
a seguir o bom Jos?

Quanta vez de tardezita
cevei o mate solita
e mateei bombeando
a estrada.

Qualquer nuvem de poeira
qualquer sinal de galope
j?e acendia a esperan?
mas que esperan? que nada.

Na minha ingenuidade
era tudo o que eu queria
um rancho pra ser meu rancho
um pe?pra ser meu pe?
filhos pra chamar meus filhos
um terreiro com galinha,
vassoura, fonte e fog?

Fui das p?nas da hist?
aos sonhos do faz de conta
na guerra fui cabo toco
uma mulher que peleou.

Fui Anita e Ana Terra
fui a parda margarida
que pra casar com In?o
fez pedido a Santo Ant?
prometendo uma capela
e uma cidade gerou.

Fui m?de her?e teatinos
desposei pe?e caudilhos
e nem espodo, nem filhos
reconheceram a seu tempo
minha fibra, meu valor.

Quem percorrer a quer?ia
pelos caminhos da hist?
decerto me encontrar?

Varrendo um velho terreiro
ou assando p? no forno
lavando roupa na sanga
costurando uma bombacha
ou tecendo um bichar?

Acalentei no meu colo
e amamentei no meu seio
o meu Rio Grande pi?

Sem queixas e sem lamentos
fiz das esperas motivo
para continuar vivendo
e deixando a vida passar.

Por que no fundo eu sabia
que quando daqui me fosse
uma filha ou uma neta
viveria em meu lugar.

E por justi?se diga
que nem tudo nessa vida
de simples mulher pampeana
tenha sido s?istezas,
trabalhos e desencantos.

Eu j?an? a tirana
j?ailei nas amadas
J?ui prenda cortejada
nos fandangos de galp?
Tamb?j?ui disputada
em desafios de chula e
peleia de fac?

Eu, eu j?ivi tantas vidas
Eu j?ui tantas mulheres
e outras que por certo serei.

Por que aquela guriazita que
v?brincando de boneca
sem ver o tempo passar
j?ou eu, antecipando um
tempo que vai chegar.

Muda o tempo, muda a gente,
sou mulher independente,
forte, livre e emancipada
mas no fundo sou a mesma.

Ainda fr?l, ainda f?a
Ainda ?spera que me tragas
seguran? afeto, achego
e me estendas um pelego
e convide para sestear.

E aqui estou eu meu gaud?o
em tempos de guerra e paz
sou aquela que te espera
sem saber se tu vir?

Composição: Odilon Ramos





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