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O Fugitivo

Carlos Eduardo Taddeo

O indulto de natal vai ser meu alvará
Serrar pulseira eletrônica e nunca mais voltar
Mudar o corte de cabelo, comprar uma identidade
Descolar um trampo no sapato em outra cidade
Cansei de gastar caneta escrevendo carta
Denunciando maus-tratos, pro juiz da comarca
Os semiabertos pendentes, as crises alérgicas
O container, adaptado como cela

Sem nossa engenharia pro túnel pra liberdade
Mantive bom comportamento fiz oportunidade
Contei o plano pra família na visita
Dezesseis anos na rua e minha pena de dez ta prescrita
Nunca quis ta no organograma do depatri, denarc
Como cabeça geral, da comunidade
Só virei cliente indesejável da vivara
Porque a atmosfera consumista exigiu roupas caras

Tivesse tido o montante que o polícia pediu
Não tinha peregrinado pelas masmorras do brasil
Em pequenas delegacias negócios grandes
Cédulas radios mandados pulverizam flagrantes
Portão aberto iniciada a contagem regressiva
Mandato de busca e meu nome daqui a sete dias
No sindasp o agente pede pro Deus bondoso
Que eu não tenha saído com o seu endereço no bolso

É você playboy, que transforma indulto
Em porta de aço abaixada por motivo de luto
O benefício só vira missão, em plano de fuga
Porque o sistema carcerário é sinônimo de tortura
Ainda devo oito de cadeia pro estado
Recapturado cumpro a pena integral no fechado
Cento e sessenta e oito horas pra fazer a mudança
Por os móveis na kombi e dar adeus pros manos de infância

Daí pra frente a regra é de cristão máxima
Distância de mil metros de biqueira, bar e balada
Andar de moto com garupa nem pensar
É erro clássico é pedir pra rota enquadrar
Como não tenho o dinheiro do abadia
Descartei mudar de rosto numa cirurgia
Se fosse ronald biggs no trem postal
Podia até morar na frente de um dp seccional

Por que voltar pra um lugar, que se eu ficar doente
Tenho que mandar mensagem de texto pra parente
To anoréxico, com dor torácica e ânsia
Levanta dez conto que o diretor chama a ambulância
Em um minuto vegetando na prisão
Até mahatma gandhi ia mandar queimar busão
Ia dar salve pra parceiro e nação homicída
Pendurar os embargador linha dura pelas tripas

Quem sabe se detento pudesse votar
Cárcere ia deixar de ser açougue popular
Quem sabe eu não fosse um processo parado
E a próxima foto estampando o site de procurado
É você playboy, que transforma indulto
Em porta de aço abaixada por motivo de luto
O benefício só vira missão, em plano de fuga
Porque o sistema carcerário é sinônimo de tortura

Mas ia mandar filho pra morar no exterior
Equanto inseri carandirú no seu plano diretor
Pra ele continuar com rastreador pro fio de cabelo
Enquanto fizer esposa empacotar jumbo no correio
Não cometi os pecados do fugitivo indultado
Não procurei familiar nem voltei pro antigo bairro
Todo gambé da região conhece o movimento
Cair nessa circunstância é só questão de tempo

Com a escolarização que adquiri atrás das grades
Era pra eu tar preenchendo caderno de contabilidade
Cinco mil de f, cinco mil de c, dez mil de m
Menos quinze cruzeiros, de quebra da pm
Preferi emprego humilde, no lava rápido
Tudo suave até a aproximação de uma tático
Ao ouvir ''encosta ai'' a perna da uma bambeada
Não consigo controlar o suor e a gaguejada

Reação denunciou a condição de fugitivo
O verme joga um psico pra assumir que sou pedido
Corri quando falou que o rg tinha falha
Coloração azulada, uma letra borrada
Primeiro passo um tiro o rosto começa a formigar
Visão turva escurencendo, vou desmaiar
Só me resta torcer pra não resistir aos ferimentos
Como disse o minístro é melhor a morte do que ser detento

Composição: Carlos Eduardo Taddeo

Composição: Carlos Eduardo Taddeo





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