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Biografia de Célia e Celma

As irmãs gêmeas Célia e Celma nasceram em Ubá, Minas Gerais, "num dia 2 de novembro e lá crescemos", como gosta de dizer a dupla. O pai, Celidonio Mazzei, antes de se tornar um renomado fotógrafo da região, foi músico; tocava bombardino na banda de rua local.

Aos cinco anos de idade, Célia e Celma encararam um público pela primeira vez, em um concurso promovido por um circo armado na cidade, ficaram em primeiro lugar, cantando em dueto - e em italiano - a música "babbo non vuole", ensinada pelo pai que sempre ensinou as filhas as canções de sua saudosa Itália.

Na Rádio Educadora, no programa “A Hora do Guri”, as pequenas cantoras se tornaram a grande atração, cantando ao vivo os “jingles” do refrigerante local, o "Abacatinho".

A dupla cresceu no meio de uma família numerosa - com mais nove irmãos - em uma casa com um grande quintal. Mas, a grande aventura era subir nas árvores do pomar vizinho - da família do compositor Ary Barroso, para “pegar” as frutas.

Com barro, no quintal, gostavam de fazer fogão e panelinhas, brincando de cozinhar; ainda no terreiro montavam os cenários dos teatros que criavam para apresentarem-se aos amiguinhos, com ingresso pago, e tudo! Essas apresentações e as novelas na rádio, foram as suas primeiras experiências como atrizes.

Em virtude da formação religiosa que receberam, participavam ativamente das encenações litúrgicas, do coro da igreja – cantando inclusive em latim - e do coral do Colégio Sacrè-Coeur de Marie, onde estudaram e formaram-se professoras.

Nos intervalos das aulas, criaram o grupo instrumental
“Garotas”, sucesso em toda a região. Celma tocava baixo acústico e percussão; Celia, bateria, tendo aulas em Juiz de Fora/MG com Miltinho, que é do Quinteto Onze e Meia, do Jô Soares.

No colégio, com as freiras francesas e com a mãe, habilidosa na costura, aprenderam o bordado, o “rabo-de-gato” e outras artes. Do artesanato popular, a confeccionar bruxinhas de pano, petecas de palha de milho, papagaios (pipas) de papel de seda, os presépios de Natal.

Desde meninas, gostavam de acompanhar as manifestações folclóricas de Ubá e arredores. Eram as Folias de Reis e do Divino, os Congados – estes, até hoje em atividade e com a presença da dupla, quando possível. Nas festas populares, lá estavam Célia e Celma dançando quadrilha no ciclo junino, observando os calangueiros e os tocadores de cateretê nos bailes da roça.

Aprenderam os passos do catira e a reproduzir o desenho sonoro dos instrumentos de percussão típicos dessas festas. Desse convívio com o povo, recolheram algumas relíquias da literatura oral, como advinhas, lendas e “causos” do imaginário popular.

Um costume que havia na região era falar “de-trás-pra-frente”. Consiste em inverter as sílabas das palavras.
Até hoje a dupla se diverte conversando uma com a outra assim e até cantam algumas canções conhecidas nessa “língua”.

Enquanto completavam os estudos em Ubá, a dupla apresentava-se esporadicamente nas emissoras de TV do Rio de Janeiro. Já no início da carreira profissional, Célia e Celma foram presenteadas: trabalharam com nomes como Moacyr Franco, o pianista Luiz Carlos Vinhas e os diretores de shows Miéle e Bôscoli.

A dupla conheceu o compositor Carlos Imperial, formando com ele, Ângelo Antônio e Gastão Lamounier Neto, o grupo vocal "A Turma da Pesada" - irreverente, alegre, uma revolução de comportamento, que fez um grande sucesso nos anos 70.

Junto à cantora Clara Nunes, o grupo venceu o Festival de Música de Juiz de Fora, cantando a música
"Mandinga", de Ataulfo Alves e Carlos Imperial.

Paralelamente, a dupla cantava em bailes, na orquestra do trombonista Ed Maciel e depois no conjunto do pianista Dângelo. Ainda achavam tempo para os estudos: foi quando diplomaram em Licenciatura Musical, no Instituto Villa-Lobos, no Rio.

A dupla fez uma temporada de apresentações na casa de shows "Saci Pererê", em Tóquio, Japão. Foram seis meses cantando música popular brasileira. A marcha brasileira “Taí”, de Joubert de Carvalho, tem uma versão em japonês, feita especialmente para a dupla.

No retorno para o Brasil, a dupla atuou com destaque na então exuberante noite de São Paulo, em casas que fizeram história como "Stardust", "Regine's" e "Viva Maria". No repertório, grandes compositores da MPB, como Ary Barroso, Cartola, Chico Buarque, Caetano Veloso e ainda soltavam as vozes em idiche, italiano, espanhol e inglês.

Nos anos 80, os também gêmeos e cartunistas Paulo e Chico Caruso convidaram a dupla Célia e Celma para o espetáculo "Cromossomos", de humor e música, muito divertido de fazer.

Em 84, uma experiência marcante: a dupla dividiu o palco com o grande cantor Cauby Peixoto, no espetáculo
"Dance com Cauby", em duas temporadas no Rio, uma no restaurante "Velho Galeão" e depois no "Asa Branca". A crítica premiou o show como o melhor do ano e na seqüência, o mesmo foi apresentado em várias capitais do país.

Em maio de 1986, a dupla pegou novamente a estrada, para o norte e nordeste do Brasil, com o excelente intérprete Emílio Santiago, dentro do "Projeto Pixinguinha".

Em 1987, gravaram o primeiro disco solo. O repertório, voltado para nossas raízes interioranas, tem toadas, guarânias, valseados, rasqueados. Desde então, a dupla fixou residência em São Paulo, passando a nos dedicar ao estudo e à difusão da música regional, em seus diversos estilos, e ao nosso folclore.

Em 1988, Célia e Celma foram à Brasília levar ao então Ministro da Cultura, prof. Celso Furtado, um projeto de criação do "Museu de Imagens e do Som do Sertão". Receberam dele total apoio, mas devido às mudanças políticas e a outras dificuldades em viabilizá-lo, está temporariamente arquivado.

Em novembro de 90, a dupla recebeu o convite da TV Manchete para atuarem como atrizes e cantoras na novela "A História de Ana Raio e Zé Trovão". As personagens formavam uma dupla caipira, "Luminada e Luminosa". Atuaram em toda a trama da novela –que foi sucesso nacional- fazendo muitas cenas com números musicais ao vivo.

Em 1994, a dupla lançou pela Editora Nova Fronteira, o livro "A Cozinha Caipira de Celia & Celma". Em 95, Célia e Celma receberam em Belo Horizonte, das mãos do prefeito Patrus Ananias, o título "Embaixador do Centenário", pelo trabalho de resgate dos variados segmentos da cultura mineira.

Em 1997, a dupla concretizou o projeto "Ary Mineiro", fruto de uma pesquisa sobre a obra de Ary Barroso, lançado em uma turnê, com um show dirigido por Myrian Muniz.

Em dezembro de 1997, Célia e Celma receberam a Comenda Ary Barroso, da Câmara dos Vereadores de Ubá.

De 1988, o Canal Rural convidou a dupla para apresentar um programa que mostrasse a cultura de raiz. Assim começou o “Programa Celia & Celma”, que permaneceu nove anos no ar, recebendo o melhor da música regional e caipira, compositores, cantores e instrumentistas, além da riqueza e diversidade do folclore.

Em 1998, outra experiência marcante: a dupla participou do filme "O Viajante", do cineasta Paulo Cesar Saraceni, cantando a valsa "A Tristeza dos Sinos", de Ary Barroso, do CD "Ary Mineiro".

Em 2000, Célia e Celma gravaram o CD "Brasil na Mesma Toada". Em 2002 é lançado internacionalmente o documentário “Carrego Comigo”, sobre gêmeos, do premiado cineasta Chico Teixeira, do qual Célia e Celma fizeram parte.

A dupla foi nomeada membro da Comissão Nacional do Centenário de Ary Barroso e em 15 de janeiro de 2003 é instituído o “Ano Ary Barroso”, em cerimônia no Palácio do Planalto. Na ocasião, interpretaram com o Ministro da Cultura Gilberto Gil, “Aquarela do Brasil”, a música mais famosa de Ary.

Célia e Celma lançaram em novembro do mesmo ano, o livro de crônicas “Por todos os Cantos”, (Editora Ibrasa), ilustrado com fotos de nosso pai, o fotógrafo Celidonio Mazzei. O prefácio do livro é do jornalista Sérgio Cabral e a apresentação foi escrita pelo Vice-Presidente da República, José Alencar Gomes da Silva.

Também uma experiência que honrou a dupla, foi contracenar com o grande Ronald Golias no humorístico
“Meu Cunhado”, do SBT, em 2004, poucos meses antes do seu falecimento.

Célia e Celma fazem parte do Fórum Paulista Permanente da Música, coordenando o grupo de trabalho Patrimônio e Pesquisa.

Depois de algum tempo recolhendo receitas e preciosidades do folclore alimentar da região onde nasceram, a Editora Senac/SP edita o livro “Do Jeitinho de Minas”. Nele estão 165 dessas receitas e um brinde especial: um Cd com 15 receitas cantadas.

O livro recebe na China o prêmio Gourmand World Cookbook Awards, como o melhor de culinária regional de 2006..