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Banzé

Neco Vieira

Ele passou como um trem,
Veio correndo e me derrubou,
Já foi embora também,
Afinal quem não fica, fica como eu estou,
E quem sempre fica, sempre se arrepende,
De não poder ir também,
Ficamos tão bem
Ninguém entende o meu lado demodée,
Ninguém vê a vida de uma maneira diferente,
Uma maneira estranha e imponente,
Onipotente e tão presente,
Nesta louca verdade que é tão quente,
Esta sociedade que vive nos braços de Morfeu,
Que pensa que eu ainda sou meu,
Que deseja o plano perfeito,
Que quer que eu siga quieto.
Queimo-me com o fogo,
Pra provar nossa amizade,
Pra ver se é verdade,
O que dizem dos amigos,
Que eles não valem nada,
Eles não dão nenhum tostão,
Mas têm abrigo no meu coração,
Acho que eu erro demais,
O meu tamanho não me deixa mentir,
Não me deixa esconder,
Atrás da vida,
Atrás de você.
Mas se eu correr com a morte ao meu lado,
Não esquente o mundo é seu,
Não é de mais ninguém,
A morte é tão escura,
Vestida deste jeito eu nem a reconheço,
Penso que é passado,
Pensar no futuro,
Penso que é ruim,
Pensar na morte e no fim,
E ela chega dizendo que agora sou passado também
Que agora sou mais um esquecido do além,
Que sou quem sempre quis ser,
Aquele idolatrado dos decompositores,
Entrar pr'o grupo oculto dos compositores,
Trocar as pessoas de lugar,
Provocar movimentação,
Choradeira e aguaceira,
Por tanta bobeira.
Minha vida é tão redundante,
Meu jeito de ser é tão ignóbil,
O meu paladar é tão vil,
E o jeito que eu me expressei,
Foi a melhor forma que eu achei,
Pra encontrar o perdido,
Perder-me também
Ser de novo relembrado,
Como Matusalém,
Aquele sim é passado,
Um passado relembrado.
Pois eu sou uma criança adulta,
Uma porra louca oculta,
Eu sou um tirano, um rebelde também,
Eu sou o velho Matusalém,
Eu cansei de plantar,
Eu cansei de colher,
Cansei de salvar,
Cansei de morrer,
A vida custa a passar,
E quando passa ninguém vê,
Quando é notada ela já se foi,
E o sonho de dizer um: "te amo",
Foi prorrogado para o nunca mais,
Só será lembrado na terra da paz,
Por isso vivo sempre o momento,
Sou sempre quem sou,
Vivo sempre perdendo,
Faço banzé sem pedir licença,
Faço terror na porta de igreja,
Pra pedir dinheiro também,
Se eles podem roubar, eu também tenho direito,
Faço baderna no planalto central,
Banzé na porta do palácio do governo,
Tiro ao alvo nos governantes,
Jogo os papéis na cara do presidente,
E vivo o momento intensamente,
Assalto uma formiga,
Como grama então,
Converso com candango,
E chamo o lampião,
Uso peixeira de baiano,
Para acertar o seu coração,
E o futuro é esquecido,
Como eu sempre sonhei,
E a morte vencida,
Do jeito que eu sempre brinquei.
Eu meço o tamanho da destruição,
Que o poder fez com esta nação,
E conto, passo a passo como eu nunca contei,
Está aí, o que há de melhor,
Em toda a extensão, da avenida monumental,
Mas idéia não bate com idéia,
E o peixeiro me chamou para a briga,
O Paraíba era revoltado,
Levou-me para a feira de Santana,
E lá pras onze da manhã,
Espancou-me no pelourinho,
Conheci todo o Nordeste,
Filho da puta e da política,
Mandou-me para um lugar bem longe,
Fui parar no Acre;
E pra provar que eu sou,
Fui até São Paulo dar uma rápida morrida,
E quando volto eu vejo,
O mundo mudou.
E eu fico com o Corcel 2,
Com a Romiseta,
E eu visto a camiseta,
Pra dizer que viver compensa,
Meu amor, meu viver,
Chicos e chicas,
Ricos e ricas,
Novos e velhos,
Tudo se combina,
Menos eu com o futuro,
Menos eu com o presente,
E eu com você,
Só você e eu combinamos nesta vida,
Só nós que somos felizes,
Somente eu que vivo vegetando,
Dentro do seu coração,
Por que há tantos outros que vivem tão vivos,
E há outros que você quer visitar,
Menos eu, menos eu,
Que o seu sonho,
Seu único sonho,
É de me matar.

Composição: -





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